Bem-sucedido, íntegro, bonito e em busca de um relacionamento sério. Esse é o perfil criado por criminosos para aplicar uma extorsão que tem tirado a paz e muito dinheiro de mulheres: O Golpe do Amor.
Segundo a polícia, há muitos casos praticados por quadrilhas organizadas do continente africano, que criam perfis falsos em sites de relacionamentos e redes sociais. O golpe do amor não é aplicado de um dia para outro. Os bandidos criam perfis falsos em sites de relacionamentos e redes sociais fingindo serem pessoas maravilhosas, que buscam namoro ou casamento. Após envolverem os alvos em longas conversas, que duram meses, eles ganham a confiança das vítimas aos poucos. Em média, a polícia recebe 30 casos do tipo por ano.
“Os criminosos costumam procurar mulheres de meia idade, separadas ouviúvas, que vivam em um contexto de carência afetiva. Normalmente, dizem teruma profissão de prestígio, como engenheiro, advogado ou militar”.
EMPRÉSTIMOS Após meses envolvendo as vítimas e prometendo relacionamento sério, eles inventam alguma história para pedir dinheiro emprestado, sempre prometendo que irão devolver”, contou o delegado Breno Andrade, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Uma única vítima do golpe do amor perdeu R$ 130 mil em três meses. Funcionária pública, com vida estável, Os criminosos criaram um perfil falso de um suposto engenheiro alemão que estaria trabalhando embarcado em Portugal. Após abordarem a vítima em um site de relacionamentos, as conversas via internet passaram a ser diárias.
“Eles começaram a conversar em dezembro de 2017, de forma despretensiosa. Com o tempo, o suposto engenheiro foi passando confiança e chegou a falar que casaria com a vítima. Até que um dia ele disse que o navio estava cercado por barcos de piratas. Que tinha contratado uma empresa de segurança para retirar do navio seus 180 mil libras e objetos de valor, mas que só confiava nela para enviá-los. Porém era preciso pagar uma taxa, que só poderia ser depositada do Brasil. Foi quando ele pediu R$ 16 mil emprestado, prometendo que devolveria logo. Ao ver que ela pagou, ele disse que na verdade o valor era de 16 mil dólares, o equivalente a cerca de R$ 65 mil”, contou Hérick Fadini, advogado da funcionária pública.
Deslumbrada com as promessas de amor e acreditando estar ajudando umnamorado, a vítima precisou pedir um empréstimo para fazer o novo depósito.
HISTÓRIAS A partir do momento que a quadrilha percebeu que ela caiu no golpe, passou Um dos bandidos chegou a se encontrar com a funcionária pública em um hotel de Vitória para entregar o cofre prometido pelo suposto engenheiro. “O homem parecia nigeriano. Ele estava com um cofre pesado, contendo vários papéis em branco cortados do tamanho de notas, separados em malotes. Com dificuldades na linguagem, ele disse que aquilo era dinheiro que havia passado por um processo químico para tirar a core não dar problemas no transporte. Para o suposto dinheiro voltar à cor normal, seria necessário pagar um novo tratamento químico e mais um empréstimo da vítima.”
Segundo o Dr. Hérick Fadini, os valores pedidos eram sempre acima de R$ 5 mil. Em um único depósito ela enviou R$ 45 mil e, em três meses, a quantia já chegava a R$ 130 mil. Ao ver que a mãe estava cada vez mais endividada, a filha pressionou até que ela contasse o que estava acontecendo. Ela percebeu que tratava-se de um golpe e acionou a polícia. O caso segue sob investigação.
"ELA QUERIA VENDER O APARTAMENTO" Traumatizada, uma funcionária pública de 60 anos sequer consegue falar sobre o golpe do amor. Ela perdeu R$ 130 mil para criminosos nigerianos e agora carrega prejuízos, não apenas financeiros, mas emocionais. O advogado dela, Dr. Hérick Fadini, contou à reportagem como foram os três meses em que a vítima foi enganada e extorquida.
Como sua cliente conheceu o criminoso? Minha cliente é uma senhora de 60 anos, funcionária pública, com uma vida por essas tranquila. Ela entrou em um site de relacionamentos, e existem quadrilhas fazendo esse golpe do amor. Ela começou a conversar com um perfil masculino em meados de dezembro do ano passado. O contato começou de forma despretensiosa e depois passaram a se falar por e-mails. O homem se apresentou como um profissional bem sucedido. Um engenheiro alemão que trabalhava embarcado em Portugal. Eles trocaram e-mails por meses até que ela sentisse confiança. Ele prometeu que viria ao Brasil para casar com ela.
Como ele começou a pedir dinheiro? Ele disse que o navio em que ele estava avistou embarcações piratas no entorno. Que uma empresa de segurança foi a navio tirar pertences de valores e que ele precisava enviá-los para uma pessoa de confiança, que seria ela. Ele disse que tratava-se de um cofre com 180 mil libras e outros objetos. Ela ficou preocupada, aceitou e deu o endereço. Depois, a suposta empresa de segurança entrou em contato com ela por e-mail, disse que o cofre tinha sido pego pela polícia federal e que era preciso pagar uma taxa para liberar. Porém, essa taxa só poderia ser paga do Brasil. Ela fez o deposito de R$ 16 mil. Quando viram que ela tinha caído, falaram não era R$ 16 mil e 16 mil dólares, o equivalente a cerca de R$ 65 mil. Ela pegou um empréstimo para o depósito.
Depois pediam mais? Sim. Viram que ela caiu de primeira e foram inventando histórias diferentes para conseguir mais dinheiro.
Como descobriram que era um golpe? Eles Continuaram pedindo mais dinheiro, tendo que pedir para a filha emprestado. Ela chegou a querer vender o apartamento. A filha se assustou e foi buscar saber. A vítima ficou envergonhada, mas contou. A filha viu que tratava-se de um golpe.
Como ela está hoje? Ficaram as dívidas e o abalo psicológico. Ela é uma pessoa instruída. Mas os bandidos trabalham com a emoção, apelam para o lado sentimental e amoroso.